Peau d'âne

Jean-Luc Godard Chez Croque - Mais uma vez, essa coluna é levada aos meandros do instinto humano, principalmente sexual, indicando a forte relação entre os prazeres da mesa e os da carne. Carne essa que também alimenta e que está presente o tempo todo no indigesto filme inglês “O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e seu Amante”, de Peter Greenaway. Indigesto naquilo que a arte pode ter de intensa ao confrontar a nossa existência com os valores sociais impostos. A primeira cena do filme já nos coloca com sinceridade a violência escatológica e anárquica que irá perpassar a obra. Não há nada de convencional na arte cinematográfica de Greenaway, mas há um requinte imagético e uma potência filosófica ímpar, difícil de se atingir com filmes puramente narrativos. “O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e seu Amante” é, talvez, o mais gastronômico dos filmes já realizados. As cenas de sexo na cozinha e em depósitos no meio de alimentos são figurativas e escancaram a vocação luxuriosa da gula e vice-versa.